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Friday

Nas nossas manhãs.

então esse sábado acordei e finalmente tive coragem de deletar meu blog antigo.
tinha quase o mesmo nome que esse, o mesmo layout. mas tinha também coisas que não cabiam mais.

reli uma média de 270 posts, desde novembro de 2006, quando ele ainda era "entre cortes, passagens e cores". gostava desse nome. gosto até hoje.

para as pessoas que contei ter feito, recebi olhares assutados em troca: "...mas tudo fez parte da sua história. foi o que passou, não se deleta passado!"
de fato, guardar "aquilo que foi" pode nos nortear, e até aliviar. um registro online foi deletado, mas nunca aquilo o que foi vivido.

aqueles posts e textos que realmente gostava e que ainda são pertinentes, atemporais, permanecem. assim como os que ainda adoro, muito...

e daí têm aqueles que ainda estão aqui, dentro, pra sempre arquivados no lugar mais seguro existe.



Last Night Party
/ set08
ele:
bom dia!
como se portaram pedro, bjorno e joão?

eu:
aaaaaaeeeee foi liiiindo. mas posso falar? shout out louds tocou antes. foi tao lindo quanto. juro juro juro. a noite valeu cada segundo. parecia que a gente tava na europa, sabe? clube pequenininho, meio vazio, para raros.
fui com amigos, dancei, ri, tava feliz. feliz mesmo. de ver bandas que eu gosto, tocarem musicas que eu gosto e obvio que corri pra frente pra cantar bem perto deles "i ammmmmm more meee". as you said i should ;)
e PB&J são loucos-malucos. e sao todos lindos no palco.
alem disso, eles brincam em trabalho: páram a musica no meio, cantam jorge ben, falam portugues, voltam a musica, gritam, quase se jogam, levantam o povo e, nossa, de morrer.
alias, ontem, eu poderia dizer que me senti completa. por um momento só, que fosse, mas me senti. foi bonito. bem bonito.
parecia europa. parecia uma viagem entre amigos.
foi legal.
e fiquei feliz.
e, hm, nasci pra ser tiete. prontofalei ;)


e não me venha falar da europa! / ago08
from *See you in the morning by *juju*
em seis meses vamos precisar de visto para visistar londres ou qualquer cidade da inglaterra.
a mídia não está falando muito disso, mas é verdade. na verdade, o único veículo que fala é o estadão. e a cbn, que foi minha fonte.
então estou eu, voltando pra agência e ouvindo esse absurdo no rádio. ao final da reportagem, eles ainda dizem que a obrigatoriedade de visto de turismo se extende para todos os países da união européia.
sim: todos!
tô passada, puta, também indignada como a cbn e a droga do meu passaporte italiano vai demorar muito, mais muito tempo.
adeus reveillon em alto estilo, férias animadas com festas no verão europeu e, by the way, esqueçamos paris!
pra melhorar, subo na agência e os meninos me perguntam: "julinha, você tem umas amigas assim?"
eram fotos de uma mega-jam balada na frança. ou suiça. ou suécia, ou inglaterra, ou irlanda, ou italia, ou espanha, ou alemanha, ou a vá pra puta que pariu esses lugares.
não me venha falar de europa!
tô triste mesmo, e daí?

e humpf! esses malditos britânicos de meia-tigela!



calçada da vila olímpia não é lugar para andar de paquera!
/ ago08
from *See you in the morning by *juju*
ah, mas que saco, "dá licença por favor?": calçada da vila olímpia não é lugar pra andar de paquera!
andam a dois por hora, todos cheios de nhénhénhé, de mãozinha dada, ocupando três espaços, olhando as vitrines inexistentes e ai, que saco. eu tô com pressa, com fome, ainda preciso passar na farmácia e no sapateiro.
não é pra andar com paquera, empaca tudo, entope tudo, e ainda fica uma fila atrás do pessoal da firma se gabando da apresentação em power point que estava lindona.
pior: todo mundo vestindo cinza.
não dá. vapapú e vão andar de paquera em outro lugar, de preferência bem longe de mim.
aqui a calçada é pequena demais para nós dois.
humpf!

(e ainda me fazem chegar tão irritada do almoço que erro o andar da agência!)


Thursday
as coisas têm mudado... / jul08
muito, ultimamente.
estou num momento de assimilar e por isso ando meio calada.
já estou de volta, desde o dia 1.

meu aniversário foi bem bonito. meu trip-mate me levou em uma loja-luxo, depois compramos mimos alimentares no marks&spencer que tanto amo e eu quase - quase - desmaiei no meio do lugar. estava realmente, realmente faminta.
daí, com toda a agilidade de um trip-mate, ele passou a mão em uma cestinha de baguetes e me deu: "come."
fomos para o hyde park e por lá ficamos tomando sol, um pouco dormindo, um pouco acordada, entre um telefonema e outro. umas duas horas e um sol forte. foi bonito e era meu aniversário.
no final da tarde recebo um email que me enche de emoção. já disse que eu adoro o pessoal da babel? claro que já disse. eles fizeram uma coisa muito, muito doce.
depois do meu surto no ponto de ônibus, sentamos calados enquanto eu sorria, olhando londres passar pela janela, até chegarmos no london eye.
foi bonito. fazia frio e o céu estava alaranjado. ainda era nove da noite.
sentamos ali no bar do southernbank e tomamos uma boa garrafa de vinho rosé. francês, porque a frança decidiu nos perseguir. e por hora eu decidi deixar.
voltamos para casa.
no dia seguinte voltaríamos para paris (esqueça paris, menina!) para eu voltar a são paulo.

tenho saudade.
a saudade da viagem, a saudade da companhia, a saudade da minha serenidade. não, não que eu não estivesse prevendo isso. veja, já fiz algumas coisas asssim para saber como funciono.
mas, essa... essa foi...
gênia?

veja...
as coisas têm mudado um pouco...


Sunday
just for the records / jun08
tudo anda bem.
estamos em londres, com algumas pequenas (pequenas, nada, grandiosas) mudancas de planos. mas tudo anda bem.
depois escrevo melhor.
mas fato eh: a tate eh de morrer (novidade), o tempo ta terrivel (novidade) e to, assim, tipo, bem feliz (apesar de pesares).
depois conto melhor.

amanha eh meu aniversario.
me liga?


a casa que nunca tivemos / jun08
from *See you in the morning by *juju*
a casa que nunca tivemos é toda de vidro e madeira branca, num lugar muito, muito alto e distante.
a casa que nunca tivemos tem vista para o mar. lá fora, no deck de madeira escura, uma espreguiçadeira branca.
a casa que nunca tivemos recebe grandes festas que duram até o dia seguinte.
a casa que nunca tivemos recebe amigos que nunca tivemos.
aquele casal que tanto gostamos, tão entendidos de vinho e vida, assim como nós.
a casa que nunca tivemos recebe também flores que colhemos juntos, quando subimos ali na colina nas tardes frias de junho. nessas tardes, sempre que voltamos para casa, você me faz parar ali na trilha, me abraça e sussurra no ouvido:
"não é mesmo linda, a nossa casa?"
a casa que nunca tivemos vive do nosso fogo, não havendo espaço para mais
ninguém novo ou passado em nossos corações. ela é repleta de paz e harmonia, formada exclusivamente pelo nosso dia-a-dia.
a casa que nunca tivemos é toda de vidro porque somos honestos.
a casa que nunca tivemos tem madeira branca, porque somos sólidos.

a casa que nunca tivemos está no alto, distante, porque podemos seguir.



Wednesday
teu vazio na janela da minha vida. / dez07
eu juro por deus que hoje tive vontade de te esganar. te esganar como nunca o fiz, até arranhar minhas unhas na tua barba e repuxar todos esses teus pêlos do rosto.
subir lentamente até teu nariz e socá-lo, socá-lo até escorrer todo o catarro e o pó já cheirado.
me empurrar até seus olhos, olhá-los bem de perto e cuspir. de novo. e de novo. bem dentro.
enquanto isso, uma mão minha te arranharia a testa, deixando uma cicatriz tão grande quanto a que deixaste em mim. uma cicatriz que te dê vergonha, que te dê ânsia própria toda vez que olhares no espelho.
hoje tive vontade de te esganar e o fazer engolir teu próprio sangue e gozo. vermelho, ah, o vermelho que você tanto gosta. o drama, a licença poética. o seu vermelho, enfim.
te esganar até você quase morrer, só para logo depois do susto do quase, como numa orquestra mal ensaida, sussurrar ao meu ouvido "eu sinto tanto a tua falta na minha vida".

eu enfim te viraria um tapa na cara, bem dado, redondo, onde uma poça preta se formaria para refletir tua imagem nojenta.
um tapa com muita dor, por todos esses dias, meses e anos que me fizeste passar. e daí, e só aí, eu terminaria de te arrancar essa barba morta, que sairia junto com tua pele seca do meu cal, para te deixar em carne viva. inteiro. inteiro em carne viva. da sua pretensiosa cabeça aos teus prepotentes pés.
aos teus pés. até eles eu desceria pelas tuas pernas, te maltratando, te arrancando tudo o que tivesse por vir, pêlo por pêlo, lembrança por lembrança, e tudo o que tens. principalmente o que tens.
e nos teus pés eu então me acalmaria. e choraria.
choraria todo o desespero e a dor, a vergonha e a solidão, o ambandono e mais tudo o que nunca me permiti desabar, desde que você partiu.
chorar até eu quase morrer, só para logo depois do susto do quase, como numa orquestra mal ensaida, sussurrar  ao teu tão longe ouvido "eu sinto tanto a tua falta na minha vida".

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Grande coisa! / jul07
É, definitivamente, uma bosta.
Uma BOSTA.
Uma B-O-S-T-A.
Não tem como, cansei, não dá mais pra fingir que nada tá acontecendo, que é assim mesmo, normal, recorrente, esperado, e que acontece com o mundo.
Porque é exatamente por tudo isso que é assim, uma bosta.

Uma bosta você vai lá e conhece o moço. Papo vai, papo vem e ele acaba pedindo seu telefone. Ou o do seu cachorro. Ou o da sua irmã. Do chefe, melhor amiga, mãe, cozinheira, qualquer coisa. Mas dá um jeito de chegar junto. E chega.
Pois bem. Daí, depois que tudo acontece, todas aquelas delicinhas bestas, paparicos medíocres e tão perfeitos, amorzinho pra cá, doçurinha pra lá e então, suddenly, acaba.
Não interessa porque, quem com quem, quando, depois de quantos meses e anos juntos, se nevava ou era seca no sertão. Mas acaba. É assim mesmo, aparentemente sem mais nem menos. Porque sempre tem um motivo, tem que ter um motivo maior, deve haver um filho da puta de um motivo gigante que justifique.

Que justifique esse chiclete que vai-e-vem que é a nossa vida cheia de relacionamentos. Esse chiclete que vai-e-vem que é a droga da nossa cabeça neurótica e feminina e fadada aos problemas medíocres dessa sociedade vazia que eu vivo. Não sei você, prezado leitor, mas eu sim.
Medíocre vidinha essa de acordar, se enfiar num trabalho que o povo se mata pra ganhar milhões e nunca ganha. Medíocre vidinha que o parceiro ali do outro lado da mesa fica o tempo todo no youtube e no messenger e ganha o triplo. Medíocre vidinha essa de aparências sociais que me faz cada dia cavar um pouco mais do meu buraco e me fechar – confesso que ontem quase o confundi com uma vala.
Pára o mundo que eu quero descer, que eu cansei da brincadeira de mise-en-scene meu, seu, e de quem mais quiser subir nesse palco. Aproveita que o ingresso hoje tá de grátis, promoção de inauguração.

Voltando à bosta. Não, não, prezado leitor. Me desculpe: à BOSTA.
À B-O-S-T-A.
Cá estamos nós, mais uma vez se desvencilhando de dores e amores que não deram certo, de encontros e desencontros (e se citar Vinícius, leva!), de dor de cotovelo, de corno, de bexiga, de cistite, de pau-pequeno, de peito murcho, de qualquer coisa que você quiser chamar. Mas desvencilhar dói e isso é um fato.
Que piora oitenta e sete por cento se você somar a isso uma sociedade medíocre e ordinária. Porque quando você tem a oportunidade de se abster dela por 24hs, percebe o quão medíocre, ordinária, vazia e calculista a sua pessoa também se tornou.
A solução então é morar no campo, na praia, na rua, na chuva ou numa casinha de sapê? Não, ó estimado leitor, não é. Quer dizer, acho que não é...nunca morei, porra, como é que eu vou saber?
A solução é tentar...tentar...tentar reparar os erros cometidos durante os surtos medíocres e indecentes, imersos num contexto concreto e cinza. Muito cinza. Bem cinza. Totalmente cinza.
Com uma pitada de vermelho-luxúria que sempre fode tudo.

Naquelas 24hs de consciência, naquelas 24hs que você se propõe a ajudar de verdade o mundo, as mesmas 24 que você ama assistir Animal Planet sem se sentir sozinha (porque, me desculpa, mas é praticamente impossível você assistir a uma búfala parindo na Nova Zelândia e uma zebrinha pulando na África e não se sentir a pessoa mais sozinha do mundo). Pega essas 24, lembra dos 24 mil surtos que você-versão-mulher-barbada-gigante-elástica-canibal-animal-aberração cometeu sem o menor peso na consciência e com o rei e o príncipe e o reinado inteiro na barriga, e se redime.
Só não pergunta como. Eu também não sei.
Só sei que é uma bosta.
Essa grande bosta: a vida na cidade grande, no mercado da comunicação, desse povo lindo e descolado, no bairro mais burguês do país.

G-R-A-N-D-E B-O-S-T-A.


Mirror_1,11 / abr07
- você de novo?
- como vai você?
- com licença.
- como vai você, eu disse.
- com licença, eu disse. será que você pode ir embora?
- não.
- por favor, olha, já te pedi pra sair daqui.
- eu não vou sair, me desculpe. aqui também me pertence e aqui também é meu jardim.
- ah mas não é mesmo!
- é, criatura! é meu jardim, com minhas flores que eu mesmo plantei com o seu solo e nossa água.
- sim, muito obrigada. você realmente fez um trabalho lindo. mas já pode ir porque já deu frutos, flores, já colhi, já deixei apodrecer, já um monte de coisa. sai?
-não.
-o que você quer de mim?
- você.
- eu não.
- você sim.
- eu não posso te dar eu porque se te der fico sem ninguém.
- te ofereço essas rosas.
-nossa, mas quanta ousadia a sua, não? me oferece as rosas que meu próprio jardim deu!
- nã-não, tsc, seu jardim as acolheu. eu coloquei a semente, emprestei sua terra e regamos juntos.
-bem, ok, sai?
-não saio. e ainda te digo mais: não saio porque isso aqui só acaba, as flores só morrem, e a seca só impera, quando você disser que é para acabar.
-bem, que acabe, então!
- não é assim.
- mas puta merda! tudo o que eu faço é incompleto, tudo o que eu faço não é saudável, tudo que eu tenho tem um dedo seu. que saco, porra. merda.
- preciso te dizer uma coisa.
- diz e sai.
- não vou sair. preciso te dizer que eu não acredito mais.
- em...?
-vertigem. substituição.
- e...?
- vertigem, não acredito. não quero mais, não consigo.
- me deixa ir... por favor, me deixa ir embora... me deixa...
- se fores, levas o quê com você?
- nada, prometo. te deixo sem nada, só com você.
- então vá.
- e você?
- vou também, mas o Susto fica. deixe que alguém que não nós cuide dele. não precisamos mais carregá-lo.
- você vai embora mesmo? de verdade? nunca mais volta?
- você quer?
- eu quero muito... olha, eu gosto muito de você mas tá muito difícil. olha, o que precisa ficar claro pra você é que eu não posso mais ficar assim, com você presente em tudo. eu gostaria de respirar, andar, de vez em quando ter a sensação de que cheguei em algum lugar... e com você aqui tá muito difícil... a gente fuma esse cigarro e depois parte.
- assim eu te deixo ir em paz, como você está me deixando.
- obrigada... obrigada, Senhor... obrigada.
- e assim podemos fazer com que tudo o que foi vendaval, em brisa se transforme...
- e leve sementes que não mais essas desgastadas e apodrecidas, para outros ventres.
- outros frutos.
- flores.


Monday
CrossFade_Ando Meio Street / dez06
hoje me percebi mais street e menos romântica.
fui na galeria ouro fino pegar um colar que deixei pra consertar e aproveitei e dei uma volta. foi divertido. era tipo dez e meia da manhã e estava gostosinho andar por ali vazio...
coisas interessantes aconteceram: a vendedora da Chilli Beans não sabia quem era Jackie O. e muito menos o estilo da Diva. Thaís Gusmão ainda se acha a última bolacha do pacote e colocou na vitrine um visual nada a ver, com cinta-liga de pelúcia preta. e o clássico army ou exército ainda está em alta.
quando desci ali no subsolo, entrei numa loja que muito me chamou a atenção "Attention Deaf Disorder". Já tinha entrado antes, há alguns meses atrás. bom, eis que entrei e não tinha vendedor algum, mas logo percebi que não tinha mais moda feminina lá, só para os moços que by the way, se comprassem lá, seriam todos muito charmosos.
bom, enquanto pensava nisso, reconheci numa arara um moleton lindo lindo que um affair meu usava horrores, o que me deu uma bela pontada no coração.
- e aí, quer levar pro seu namorado?
"puta que o pariu, vendedor, você quer que eu caia em prantos aqui mesmo?", pensei.
- hehe..eu não... eu não tenho namorado...
- ahn, mas se tivesse ele ia gostar, ia não? (mal sabia o vendedor da minha saga) e continuou: "mas então, tava te olhando, super bonitos seus pés, nossa!"
- ahn?
- seus pés. bonitos. te vi descendo ali a rampa e reparei.
- nossa moço, tô tipo de calça jeans, cobrindo meus pés. deixa até dar uma olhada aqui neles (e levantei um pouquinho a barra da calça).
- ah, vai. mó bonitos. até parece que você nunca reparou...
- nossa, nunca. mas agora que não tenho namorado, né, quem sabe não me apaixono por meus pés..."e aí, pés, how are you doin'?"
(incrível como consigo ser besta de vez em quando)
-haha, adorei...
- é...
- então, mas poxa, que pena que a gente não tem mais moda feminina...a gente tinha até que...
- sim, me lembro, vocês tinha umas coisa bacanas aqui...
- até que a sabrina sato veio aqui e apareceu com umas roupas nossas no Pânico. daí...bem daí queimou o filme total da loja.
e ficamos ali meio rindo, meio sem graça... eu sem namorado numa loja de roupas para homens, ele olhando para os meus pés enquanto eu pensava que é legal mesmo a combinação sandalinha verde-exército e unhas bordô. gostei.
saí ali da ADD e uma senhorinha me puxou para um brechó, do outro lado do corredor.
- olha, temos aqui um monte de coisinhas Vintage... tem vestidinho, tem lenço, chapéu...
- obrigada, senhora, só estou de passagem mesmo. uma coisa mais street, menos romântica.

e enquanto subia a rampa, reparei que ele estava ali sentado no banco de madeira, com um olho no jornal e o outro em mim.

Thursday

tudo aquilo que aprendi cabe numa folha pequena de papel. num guardanapo simples, daqueles de um café qualquer. é tudo tão pouco que posso contar em um tempo tão curto como uma corrida de taxi. enquanto cruzamos a cidade, do ponto A ao B, tudo o que aprendi soará tão previsível, raso e insignificante como a história deles mesmos, meros imigrantes, meros taxistas. trabalhador, tudo aquilo que possuo é uma rotina sem sal, sem sabor, sem amor.
o tempo?
o tempo é curto e nem um sopro da minha história te faria prestar atenção, ser cativado por mais de trinta segundos ou pelo tempo de um semáforo fechado. o tempo é você quem vai julgar, enquanto que a mim... a mim mesmo há de curar.

tudo aquilo que aprendi cabe numa folha pequena de papel. num guardanapo simples que pode ser jogado ao tempo, ao vento.
assim, pode ser que o vento o leve longe e alguém muito distante ache. em meio a um vendaval como nunca antes visto naquele povoado, em meio a ventania que antecede uma enxurrada de mudanças para quem ali vive.
e talvez assim a minha cura, só talvez... seja que tudo aquilo que aprendi seja desdobrado e desdobrado e desdobrado. recontado para o resto daquelas vidas.




Nova Iorque, 18 de Abril de 2012.

A Morte.

O email que você não vai receber.
A piada que não vai entrar, o telefone que não vai tocar. A mensagem que não vai sair, a mensagem que não vai entrar. A porta que não vai abrir, as tardes que não vão chegar. As noites que não vão passar.
A noticia que não vai vir, o comentário que não vai falar. O apoio que não vai suprir, a sabedoria que não vai imperar.
O colo que não vai vir, o abraço que não vai sentir. O cheiro que vai sumir.
O sorriso que vai congelar, as mãos que vão trancar, o toque que não vai esquentar, a pele que vai esfriar.
O silêncio que vai ocupar, o vazio que vai ficar, o susto que vai permanecer.
A família que eles não vão conhecer.

Mas de tudo, de tudo, a esperança de uma volta que não vai existir.
Assim é a morte. O único lugar onde eu não os alcanço.

Friday

Apavorada

Eu queria girar mais devagar que o mundo.

Wednesday

Este é feito especialmente para você.

Parecia que não ia chegar nunca.
Eu esperei tanto por este momento, mas tanto, que tinha até esquecido da cor e do cheiro mentalmente programados para quando chegasse.

Hoje eu posso dizer com tranquilidade no coração que você não é e nem vai ser a pessoa que eu quero para compartilhar a vida comigo.
Parece que esperei dois anos e muitos relacionamentos dividida entre o você aqui de dentro e as pessoas reais comigo, lá fora. E você, de uma certa forma, sempre ganhava.

Não ganha mais.

Parece que tive que voltar quase dois anos atrás, sentir você de novo com suas desculpas e meus ouvidos alertas. Hoje, muito mais sóbrios e afiados do que já foram.

No domigo de manhã eu te matei, meu anjo.
Eu te matei aqui dentro e te agradeço profundamente.
Tuas palavras escolhidas a dedos me soaram tão opostas daquilo que tenho em mim, daquilo que sou que... que... você me deu uma arma. E desta vez, eu atirei confiante e acertei em cheio.

Não sei quem de fato és e, pelo que conversamos, pelas coisas que eu te disse que fizeram-te assumir a minha razão, acho que também não sabes. E talvez, nem tivesse te dado conta.
Penso assim, e assim não pega tão mal para sua não-presença.

Que já não me fazia falta. Que já não é surpresa.

Estou livre de nós, daqueles possíveis nós. Acabou. Defini aqui dentro onde é o seu lugar: fora. Fora da minha vida. Parece que não existe mais sentido pra guardar uma história em uma manga. Não tenho mais medo da vida e não vejo, definitivamente, em você um escudo ou proteção. Nossas fidelidades não são as mesmas. Parecia que o nosso não ia chegar nunca e agora temos o nosso grande divisor de águas.

Na manhã deste domingo já passado, vi na sinceridade de suas palavras a covardia mais pura e doce que existe: a de garotos.


Foi um dia muito importante para nós.
O dia em que finalmente arranquei você de mim. Fechei e tranquei meu portão.
Você não entra mais.

Thursday

Deus - se.

Deu-se conta de onde estava.
Veio das vezes incontáveis que chorou por sua beleza.
Veio de um novo ar, uma nova voz e um novo tom de pele.
Tão-quase igual ao dela e tão novo.
O novo.
Rezava por um lugar novo. 
Rezava por uma história nova.
Rezava por Ser você a assumir.
E ela, Dar-se.

Tuesday

Uma sábia de saia que sabia.

No quarto todo branco, somente um espelho.
Ela entra, olha fundo naqueles olhos, e diz:
'Sabe de uma coisa?
Tá na hora da gente começar a brincar de vida própria.'

Center of Gravity

eu entendo, eu respeito, eu entendo, eu te alivio, eu te curo, eu evito, eu me retiro, eu te retiro, eu falo pouco, eu falo tudo, eu falo em siglas, eu ouço, eu agradeço, eu encurto, eu encurto, eu termino, eu me retiro, eu projeto, eu concluo, eu me evito, eu não entro mais, eu não penso, eu distraio, eu entendo, eu respeito, eu entendo, eu te alivio, eu te curo, eu evito, eu penso, eu desconforto, eu troco, eu substituo, eu procuro, eu procuro, eu procuro, eu desculpo, eu não entro, eu não quero, eu minto, eu não vejo, eu não sinto, eu não amo, eu não arrisco, eu não corro risco,
eu te alivio



eu te curo







mas eu quero
me desculpa.
mas eu quero.

Sunday

Nascemos quando nos permitimos morrer.

'Nossa casa ficava perto da estação Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente minhas tranças de menina, deitei debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim. Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante deram-me a impressão de delírio e loucura. E eu via cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação.
Voltei decidida a me dedicar à pintura."

Anita Malfatti.

Wednesday

Tremendamente errada.

Alguma coisa estava tremendamente errada.
Acordou e não sentiu seus pés. Colocou-os no chão, mas como nada sentia, não sabia se aquilo era 'chão'.

Arrastou-se de joelhos por uma superfície aparentemente líquida.
(Seriam suas próprias lágrimas derramadas enquanto dormia?)

Vindo do Térreo, o som seco e ruidoso da voz de Elis alcançava seus ouvidos.
Tremendamente errada, alguma coisa estava tremendamente errada.

Tuesday

Time [went by in a] Sheet.

Saturday, 3PM.
Pitch Rehearsal
Total time spent: 30%

(that was the afternoon you started leaving me)


Monday, 11AM.
Pitch Results
Total time spent: 5%

(that was the morning you didn't answered me)

Wednesday, 6PM.
New Pitch Brief
Total time spent: 13%

(that was the afternoon I was sure)


Friday, 8AM.
Pitch Presentation
Total time spent: 40%

(that was the morning I took your things out of my house)

Saturday, 3PM.
Enhancing Self Steam
Total time spent: 12%

(that was the afternoon I realized I was absolutely satisfied with myself)

Friday

Cinzas.

Acordou com uma leve tristeza à seu lado naquela manhã.
Abriu os olhos, fitou o teto em silêncio. Algo estava estranho dentro dela. Não soube identificar. Olhou o relógio, dez e meia, precisava sair da cama.
Enquanto andava pelos corredores da casa, planejava seu dia: compraria tintas, faria ligações, passaria para dar um beijo em sua mãe, veria um novo apartamenteo, chegaria ao trabalho, provavelmente falaria com algumas pessoas, trabalharia eficientemente e voltaria feliz à casa.

Mas acordou com uma leve tristeza à seu lado naquela manhã.

Na loja de tintas percebeu que algo lhe faltava. Uma sensação de perda descabida para a situação. Um gosto estranho veio à boca. Parecia alumínio, não soube identificar. Sentiu-se tonta, questionou saudades, desconsiderou gravidez, lembrou da noite anterior. "Deve ser o vinho.", pensou.

- Quanto foi?
- Cento e vinte e sete reais, senhora.
- Obrigada.

Desceu sua antiga rua, no seu antigo bairro. Aquele gosto, ainda. Estacionou o carro em sua antiga garagem, sentou-se à mesa, tomou café da manhã, sorriu, contou, beijou a mãe e saiu.

- Chego aí à uma, ok?
- Sim, estarei te esperando. Nós vamos ver o décimo quinto andar, conforme você me solicitou.

Queria voltar ao alto. A vida inteira morou no topo. Mas quando entrou ali, naquele pequeno apartamente de imenso vazio, quis agradecer internanemte por sua casa atual, quis abraçar-se por inteira. Se dar a mão.
Mas havia esquecido que, naquela manhã, quem acordara à seu lado para dar as mãos havia sido uma leve tristeza.

De volta ao carro, fechou apressadamente a porta e o ligou. Queria ligar, e não iria. Queria contar e não havia para quem. Queria dividir e não sabia porque. Queria um abraço e não sabia por quê. Só. Era só um pequenino apartamento. Mas aquela experiência revelou que algo grande parecia morar dentro dela, desde aquela manhã.

A cidade estava tranquila. Seu coração, apressado. Aquele gosto na boca, ainda. Quando chegou ao trabalho, notou que tinha um furo no estômago. Não tinha fome. Não tinha reação. Mas tinha um grande vazio.
Não havia um por quê claro: a noite anterior havia sido extremamente calma e agradável. O dia anterior havia usado para redecorar toda sua casa. Queria o novo. Sua sala. Seus sofás. Seus aconchegos. Tv. Dvds. Caixas. 'Era tão metódico que guardava seus sentimentos em caixinhas.' lembrou da frase inventada por ela mesma.

Quanto mais as horas passavam, mais o gosto acentuava. Arrastou-se à garagem quando o relógio avisou oito da noite. Sua casa. Acendeu as luzes, ligou a Tv, estava orgulhosa daquela mudança.
Mas algo estava do seu lado, ainda. Aquele gosto, ainda. Disfarçando, ainda. Flertou em sms, ligou para a amiga, comeu algo e... nada.
Tentou de tudo. E tudo estava igual.

Alumínio. Amargo. Furo. Uma superfície lisa e sem perspectivas. Morta. Frio. Branco, muito branco.

Era assim que tateava uma descrição sobre o que estava ali dentro.

Foi quando abriu a geladeira e se deu conta.
Entendeu porque acordou com a tristeza à seu lado naquela manhã. Entendeu o gosto amargo. Entendeu o desânimo sem motivos. Entendeu seu olhar acinzentado para seu dia.
Porque tudo fez sentido ao ver o lindo e dourado pote de Geléia de Rosas libanesa.
Rosas. Flores.

Fechou a geladeira. Voltou ao sofá. Desligou a televisão. Respirou fundo.
Silêncio.




Naquela quarta-feira de cinzas, havia vivido um luto muito importante.

Porque nos últimos dias, havia enterrado vocês.

Monday

Enquanto você ia.



Sua família estava à minha volta.
Naquela tarde, eu era o elo entre você e eles. Uma ponte que não quis queimar porque estávamos famintos e curiosos demais por este momento.
Era eu quem havia passado os últimos 240 dias com você.
Era eu quem até então tinha o privilégio quase exclusivo de suas risadas, sonhos e de sonhar junto, quando você deixava.
Naquela tarde de maio, fomos muito mais que namorados. Fui irmã. Companheira. Parceira. Alguém da família, daquelas pessoas que a gente leva no coração porque confia e conhece muito bem.
E talvez eu tenha sido recebida assim justamente porque você estava bem aconchegado no meu, mesmo enquanto você ia.
Seus pais devem ter percebido.

Assim que você atravessou aquele portão, enquanto ainda andava em direção à luz branca da Imigração, enquanto eu ainda assistia sua ida, sua mãe pegou na minha mão.
Família, enfim. A sua, enfim. Você indo, enfim.
Alívio.
Era um ciclo que fechava. Eu havia cumprido minha missão. Com as lágrimas prestes a escorrer dos olhos e o louvor inchando o coração, aquilo era o final que tanto pintei.

Hoje entendo o que estava acontecendo. Era muito mais que uma despedida. Era uma atenção e um carinho que iam, para que outras pessoas aqui se juntassem. Era o meu 'muito obrigada' à seus pais, por terem feito você ser tão você. Era o 'muito obrigada' deles à mim, por eu ter feito você ser tão você.
Era o meu 'muito obrigada' por ter me permitido viver uma morte anunciada. E superá-la algum tempo depois.


"Venha no domingo seguinte, Ju."
Nunca voltei.
Preferi guardar intacta aqui dentro essa memória bonita, de uma ida tranquila, de uma morte sabida, de uma história vivida.

Ida.



[a imagem vem daqui]

Sunday

Condições Ideais.

Não que ela não gostasse. Mas haviam indícios físicos de que algo estava errado. Não se sentia a vontade quando ouvia ´te adoro,te adoro e te adoro mais ainda!´ nas manhãs de sábado. Não se sentia sincera quando dizia que tudo estava nas condições ideais de temperatura e pressão.
Porque, de fato, não estava.

Existia muito sobre ambos ali. Todas as coincidências, o amor pelas mesmas cidades, a vontade de [voltar a] morar fora do país. As músicas, as artes e as lojas. Mas não os valores.
Parecia que ambos tentavam remontar uma história que já não havia dado certo com outras pessoas. Parecia a situação ideal somente para darem o troco ao passado, esfregando na cara de quem se foi que, sim, ´nós iríamos´!

Optaram por uma determinada estrada, com terras distantes e promissoras.
Mas algo a dizia que não gostaria tanto assim da viagem. E o que estava errado era claro: não existia capacidade suficiente no pequenino carro que também escolheram juntos.

A vontade aparente de ambos, em percorrer no mínimo mais uns 5000km juntos, fez com que colocassem gasolina demais no tão virgem e frágil tanque.

E por isso explodiram, rasgando o céu estrelado daquela noite.

Enquanto ela explodia e subia aos céus, tamanha a força de seu impacto, ele logo queimou-se em seu próprio fogo. Não saiu do chão. Feito papel, e frágil como tal, atrofiou- se em sí mesmo, tornou-se negro, carbonizou. Súbito e rápido.

Somente depois de dois dias ela caiu por terra novamente, e foi quando encontrou suas cinzas. Aliviada de vê-las, permitiu-se derramar uma lágrima.
Havia acabado, e ela estava salva.

Há quem diga que junto às cinzas dele, uma frase desestruturada também sujava o chão: ´tenho Eu não mais pedir nada se a te desculpas pedir além.'
Há quem diga que a frase estava lá pois foi seu único escudo, a única coisa em que ele pode segurar para se defender do fogo feminino que viria. E, ao perceber a força daquela iminente explosão, apavorou-se e espremeu sua única proteção até deixá-la embaralhada, igualzinho um espelho de suas emoções.

Ninguém nunca mais pisou naquele terreno queimado.
A atrocidade da explosão fora tamanha que hoje a infertilidade é a única que suporta residir ali.

E ela?
Ela, que sabia existir algo de errado naquela relação, denunciado pela falta de seu fogo de amor em relação à ele, quando passa por aquele deserto com seu carro novo, faz questão de parar por alguns instantes e admirar o que restou da noite da destruição.

E, como um espelho da alma, seus olhos se enchem novamente de lágrimas de alívio.
É assim, instintivamente, que ela agradece por hoje ser incapaz de gestar uma nova vida a dois nos mesmos moldes que tinha este terreno. Por mais verdes, atrativos e promissores que os futuros pareçam.

Porque hoje ela sabe quais são suas condições ideais.


pictured by myself.