Monday

Enquanto você ia.



Sua família estava à minha volta.
Naquela tarde, eu era o elo entre você e eles. Uma ponte que não quis queimar porque estávamos famintos e curiosos demais por este momento.
Era eu quem havia passado os últimos 240 dias com você.
Era eu quem até então tinha o privilégio quase exclusivo de suas risadas, sonhos e de sonhar junto, quando você deixava.
Naquela tarde de maio, fomos muito mais que namorados. Fui irmã. Companheira. Parceira. Alguém da família, daquelas pessoas que a gente leva no coração porque confia e conhece muito bem.
E talvez eu tenha sido recebida assim justamente porque você estava bem aconchegado no meu, mesmo enquanto você ia.
Seus pais devem ter percebido.

Assim que você atravessou aquele portão, enquanto ainda andava em direção à luz branca da Imigração, enquanto eu ainda assistia sua ida, sua mãe pegou na minha mão.
Família, enfim. A sua, enfim. Você indo, enfim.
Alívio.
Era um ciclo que fechava. Eu havia cumprido minha missão. Com as lágrimas prestes a escorrer dos olhos e o louvor inchando o coração, aquilo era o final que tanto pintei.

Hoje entendo o que estava acontecendo. Era muito mais que uma despedida. Era uma atenção e um carinho que iam, para que outras pessoas aqui se juntassem. Era o meu 'muito obrigada' à seus pais, por terem feito você ser tão você. Era o 'muito obrigada' deles à mim, por eu ter feito você ser tão você.
Era o meu 'muito obrigada' por ter me permitido viver uma morte anunciada. E superá-la algum tempo depois.


"Venha no domingo seguinte, Ju."
Nunca voltei.
Preferi guardar intacta aqui dentro essa memória bonita, de uma ida tranquila, de uma morte sabida, de uma história vivida.

Ida.



[a imagem vem daqui]

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