Wednesday

'Acho que nunca fiquei tão triste'



Poderia ser o nome desse texto.
Mas ele não seria verdade.

Não seria verdade porque a gente sempre acha que será a última das vezes que vamos sofrer, de tão cruel e avassalador que é o sentimento. Mas, surpresa: depois de um ano e meio, lá está você de novo com o coração na mão e um sapo na garganta.

"Acho que nunca fiquei tão triste", disse a ela naquela noite, enquanto me afogava em uma garrafa de vinho tinto, sabendo que na manhã seguinte correríamos a Maratona do Pão de Açúcar. E disse também algumas outras vezes, e repetindo doses e taças, para algumas outras pessoas que sabiam de toda a história.
"Não, não estou acreditando.... não é possível!"
"Sim, é sim, ele fez..."

Fim de ano. Eu sempre limpo minhas gavetas no trabalho, deleto tudo aquilo que não vou precisar, organizo meu itunes, recarrego meu ipod e daí, chega a hora. Não a hora de ir embora - até porque adoraria fazer isso neste minuto - mas a hora de deletar emails.

Curiosamente desenvolvi um hábito de fazer essa rapa a cada seis meses (ou então era o espírito europeu antecipando aquela praticidade e leveza que eu voltaria em agosto), logo, a dor do alívio e do desapego não foi tamanha.

Mas acabei de reler por volta de 200 emails que pontuavam (ou baseavam) uma história-de-sonhos. Era uma história simples assim: ele era homem da minha vida, eu só não sabia que ela mudaria tanto.
Uma história bonita e volátil como adicionar ou deletar alguém numa rede social.
Ahm-ham, assim mesmo.

Li por volta de 200 emails viscerais que me despertaram uma quase raiva, mascarada de um manso desinteresse e um breve suspiro de alívio com aquele tom blasé de 'tudo-bem-acabou-o-ano-mesmo'.
Paralelo a isso, li uns 100 que viriam a 'me salvar' sem eu mesmo saber.

Todo ano é assim.
No final de 2008 eu gostava tanto de uma pessoa, mas tanto, que não tinha vontade e coragem nem de sair na rua, só 'porque não era boa o suficiente para ele e nem para ninguém.'
Até que me enfiei no meio das artes e vi que a vida é muito - mas muito - além do photoshop.
E voltei a correr de novo.

No final de 2009, quando olho para trás, fico satisfeita. Mudei de casa, voltei a comer, conheci muita gente bacana e outras nem tanto, fiz a viagem dos meus sonhos, descobri que amo muito mais do que imaginava, fiz uma tatuagem com duas pessoas especiais, me encaminhei profissionalmente, fiz minha primeira exposição e do jeitinho que queria e... reli 200 emails que me fazem quase desacreditar nos seres humanos.
Mas que por outro lado, dão o toque final para a época do ano, como um exorcismo, sabendo que os ler hoje tem um significado muito maior do que palavras bonitas e histórias-de-sonho. Hoje, eles me dizem mais ou menos assim:
"Não perca o foco. Você sabe exatamente que tipo de gente e situação merece, o que tem, o que pode, e quem é."

E essa é a informação suficiente para terminarmos 2009.
Feliz ano novo.

Este, foi um prazer.


(A imagem é uma foto tirada em Londres, por um amigo que diz: 'Londres, Europa e Obey são sempre a sua cara.' E eu amo acreditar nele.)

1 comment:

  1. É, me deu inveja ler este texto. Me faz falta saber quem eu sou, e principalmente, das coisas que sou capaz. O sofrimento tem me deixado congelado aqui dentro.
    Então, por favor, conta mais como é a vida aí fora.

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