Wednesday

6 de Dezembro de 2016

Eu tenho essa ideia de vida de artista. Nela, eu sou linda e magra e charmosa e criativa. Criativa eu disse. Eu moro na Europa, em algum país nórdico. Suécia ou Dinamarca. Eu fiz a minha tatuagem na Dinamarca, sabia? Essa, do coração no meu pulso. Enfim. Na minha vida de artista na Dinamarca ou na Suécia eu sou parecida com a eu daqui da vida real... no sentido de estágio da vida. Eu não sou rica. Eu não sou famosa. Talvez com certo sucesso mas longe de ser hot or big shot. Eu sou striving, não achiever. Mas achei meu nicho, nessa minha vida fabricada. Eu sou convidada para openings, tenho um grupo de amigos e vez ou outra saio com pessoas que conheci aqui ou acolá. Não sei se sou casada, divorciada, solteira ou apenas tenho um namorado. Mas sei que já não sofro mais. Porque, convenhamos, na minha vida real eu já sofri demais. Esse blog comprova. E como. Continuando: nessa vida de artista na Dinamarca eu sou legal. Sou simple e easy going. Eu amo meus amigos. E eles me amam. Por que? Porque temos tempo um para o outro. Trabalhamos duro, mas vivemos também. A vida fabricada não é gerida pelo trabalho e por meu marido, como na minha vida real. Eu me sinto jovem e leve. Não tenho dores nas costas de carregar o mundo dos meus clientes na lombar. Tenho dores no coração -- de saudades e talvez até de amor. Pois sinto saudades de não ter mais essas dores. Outro dia eu disse para o meu marido: "Desde que estamos juntos a minha tristeza foi embora só que o problema é que junto com a tristeza foi também a minha inspiração." . Eu estou te dizendo, a minha vida (real) não é fácil. Mas a minha vida de artista-striver é. Ou é, pelo menos, mais divertida. Mais sofrida. Mais amada. Mais leve. Definitivamente mais alegre. Sabe, tem essa dor dentro de mim (eu real). Uma dor de perda. Todos os dias eu perco a vida um pouquinho. E a vida me perde um pouquinho. Seguimos assim, nos perdendo. É legal quando nos achamos. Mas dura pouco. Pois nos achamos nas memórias perdidas do meu passado. Só pra depois eu ficar órfã de mim mesma, de novo. Tenho certeza que eu na versão artista saberia o que fazer com isso. Sinto-me tão sufocada. Quero comprar uma passagem, sozinha, alugar uma casa, sozinha, e lá viver por um mês. Aceitarei visitas. Só não conte a ninguém qual "eu" você foi visitar. 

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