Thursday

O peito de pedra.

Ouviu a frase e sonhou ele.

Foi um beijo que derretia tudo, quente, molhado, longo, intenso, apressado, roubado, suado, escondido, abraçado, chorado, rido, vivido.
E por trás daquelas armaduras pretas, por baixo daquelas mangas brancas, o peito que era de pedra, derreteu. Quebrou. E liberou toda a emoção contida, congelada e formada ao longo destes dois anos no seu coração.
Era uma leveza tão grande no peito que fez toda a sua dor do mundo foi embora. Um preenchimento tão bonito, que tudo parou. Não estava mais triste, e fazia todos felizes. Ela, ele e o resto das pessoas naquele gramado amplo e ensolarado.

Mas quando acordou sentiu uma pressão muito grande na região do tórax. Uma dor constante, às vezes menor, às vezes maior.
Uma dor de sonhos apedrejados. Pedras pequeninas, pedras grandes.

Lembrou dele há dois anos atrás, quando alertou-a que a aquele coração tatuado iria desbotar. Que aquele apartamento era muito grande. Que não deveria aceitar tal emprego.
Passou a manhã e a tarde sentindo-se a mais solitária, dura e dolorida das espécies. Cada respiração profunda machucava mais. Lembrava do beijo, do quanto precisava daquele beijo.
Até que entendeu porque sentira aquela dor tão real e intensa ao longo do dia.

Sentia na verdade a transformação de seu coração endurecendo, enquanto sugava para sí, lentamente, todo aquela pressão cinza e sólida.

Todo aquele peito de pedra.

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